quarta-feira, março 16, 2005

A controvérsia (2)





Christine Johnson, norte-americana, parente de uma senhora lobotomizada, organizou um «Memorial dos Lobotomizados» no seu site Psychosurgery.org. Liderou uma campanha exigindo ao Comité Nobel a «desnobelização» de Egas Moniz. Representa uma visão dolorosa e radical na abordagem histórica desta temática. Criou igualmente um blog com o mesmo nome do site, onde acompanha questões relacionadas com psiquiatria e saúde mental.

6 comentários:

Raimundo Narciso disse...

Hi.Isto por aqui está muito bonito. Coisa limpa e científica. Agora percebo porque é que o autor não quer misturas com aqueles energúmenos do PUXA! Abraço de um lobotomizado blogueiro.

Manuel Correia disse...

Olá Raimundo.
Quem me dera saber metade do que tu sabes de blogs!... Então que o Egas fiava mais fino. Obrigado pela visita e um abraço.

Aporias disse...

Muito interessantes os links. A verdade é que Egas Moniz acabou por pagar pelos excessos de Walter Freeman, não é?
Embora, seja difícil calcular até onde levaria as suas pesquisas, se não tivesse sido travado por Sobral Cid...

Manuel Correia disse...

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Aí está um aspecto interessantíssimo e, segundo parece, pouco conhecido. A intervenção moderadora de Sobral Cid está suficientemente documentada, apesar de não ter encontrado nada que me dê indicação da proporção. Curiosamente, Egas Moniz nunca (?) se terá referido à comunicação (originalmente em francês) na qual Cid desvaloriza radicalmente as alegadas vantagens da leucotomia pré-frontal. Sabemos da carta de Moniz em que este se queixa de Sobral Cid a Freeman acerca das dificuldades que encontra em conseguir pacientes , e pouco mais. Acho extraordinário não ter encontrado (ainda) qualquer eco de discussão entre eles. Tenho a ideia de que Moniz detinha um ascendente persuasivo (poderes) que inibia a polemização. Estou a pensar nos casos de cientistas próximos (além de Sobral Cid) que chegaram a esboçar dúvidas e críticas, tendo, depois, sem se perceber porquê, cessado de exprimi-las. Refiro-me a Barahona Fernandes e a António Flores. Que lhe parece?

Aporias disse...

Pois, Barahona Fernandes nutria uma espécie de veneração pela figura de Egas Moniz e embora partilhasse como o próprio afirmou, na obra Egas Moniz, Pioneiro de Descobrimentos Médicos, algumas das objecções de Sobral Cid,na generalidade dos seus textos,procurou justificar o itinerário de Moniz, em função das suas concepções de matriz organicista e da sua vontade de obter meios eficazes para curar os doentes mentais, numa época anterior aos neurolépticos. Na referida obra designa a discordância entre os dois companheiros de estudo em Coimbra, com expressões como "duelo reprimido inter-pares", "duelo reprimido", "peleja latente". E enaltece a atitude discreta dos dois investigadores, "prova de elevação moral e grande elegância e serenidade", própria de "cientistas de alto quilate moral". Contudo, considerou ter sido natural e até desejável que as respectivas concepções teóricas da psiquiatria (organicista e psicológica)tivessem sido objecto de disputa dialéctica...
Quanto a António Flores, havia algumas questões de âmbito académico. Mas, acabou por ser Flores a fazer o relatório enviado à comissão do Nobel. As desavenças decorriam em surdina e nos bastidores, não se procedia a debates públicos sobre as querelas, parece-me.
Bem, este comentário já vai longo.

Manuel Correia disse...

Obrigado à Maria Helena Roque pelo fundamentado comentário. Completamente de acordo. As polémicas frustradas e as críticas em surdina. Uma cultura que evitava (evita?) a inscrição e confundia a veneração dos cientistas com a admiração pelos métodos científicos.