terça-feira, novembro 29, 2005

Egas Moniz não era pseudónimo (3)



Egas Moniz é também patrono de Loja Maçónica (Maçonaria Regular)

Portanto, Egas Moniz não era pseudónimo. Por razões que o próprio Moniz descreveu, a coisa decorreu de uma mitificação feita pelo seu tio padrinho, Abade de Pardilhó, convicto de uma linhagem que mergulharia nos confins da fundação da nacionalidade. Contudo, quando Egas Moniz foi iniciado na Maçonaria (Loja Simpatia e União, em 15 de Dezembro de 1910, de acordo com os arquivos do Grande Oriente Lusitano), escolheu para nome simbólico precisamente o «mesmo». Porquê «mesmo» entre aspas? Porque assim, ao escolher para nome simbólico (equivalente a um pseudónimo, grosso modo), o nome de «Egas Moniz», a questão colocada por João Alves dos Santos retoma pertinência. Com o nome simbólico que os mações iniciados escolhiam, prestavam muitas vezes, simultaneamente, uma homenagem a uma figura histórica de sua eleição. Ao escolher o «próprio» nome, Egas Moniz estava a homenagear o aio de D. Afonso Henriques, do qual o seu tio Abade acreditava descender, ou a homenagear-se a si próprio? Não sabemos mas, por precaução, somos levados a reformular a resposta imediata que demos no primeiro poste desta série, à pergunta «Foi ‘Egas Moniz’ pseudónimo do insigne neurologista português ganhador do primeiro Nobel?». A devida resposta, tendo em consideração o que recordámos até aqui, é não. À partida não era pseudónimo. Mas, depois, até chegou a ser. Aí está um caso «concreto» em que uma coisa pode ser e não ser, ao longo do tempo.

Egas Moniz não era pseudónimo (2)



António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz

Segundo outro estudioso desta matéria «As suas origens não tão remotas e muito mais verosímeis mergulham até ao século XVI e ao fundador da Casa do Mato, em Avanca., Valentim Pires Valente, a quem D. João III concedeu carta de brasão de armas em 1548. Dessa Casa, arruinada em meados de novecentos, procederam todas as outras - Marinheiro, Outeiro, Areia... - e, nas sucessivas gerações de parentela, D. Ana Rosa Tavares de Resende, casada com André Norton e bisavó do General José Mendes Ribeiro Norton de Matos, republicano, mação, ilustrado colonialista e figura de proa da oposição ao Estado Novo de Oliveira Salazar.» (*)


(*)
Malheiro da Silva, Armando B., (2000), «Egas Moniz e a Política. Notas avulsas para uma biografia indiscreta» in Pereira, A. L. E Pita, J.R., (Coord.), Egas Moniz em Livre Exame, Coimbra, Minerva. (p. 239)

Egas Moniz não era pseudónimo (1)



Emissão de 14/12/1989, INCM, Nota de 10.000$00. Retrato de Egas Moniz sobre a direita

Provoca estranheza a muitos a coincidência do nome porque ficou conhecido o primeiro português a conseguir um prémio Nobel. Egas Moniz foi também o nome do célebre aio de Dom Afonso Henriques, que nós imaginamos sempre pessoa de bem, capaz de honrar a palavra dada até às últimas consequências. João Alves dos Santos, depois de avaliar os textos disponíveis neste blogue, escreveu-me

Viva.Vi o seu blog Egas Moniz. Parabens :)Não consigo encontrar informação que justifique o "porquê" de o Dr. Egas Moniz ter recorrido ao uso de um pseudónimo "Egas Moniz"Se conhece este motivo, agradeceria a sua explicação.Muito obrigado

João Alves dos Santos


Enviei-lhe de imediato um trecho da autoria do visado acerca dessa questão, enfatizando que

O próprio Egas Moniz, em livro de carácter autobiográfico intitulado «ANossa Casa» (pp. 15-16), explica:

«A família do lado de meu pai tinha prosápias de fidalguia pelos Resendes,Sás, Abreus, Freires, Valentes, Almeidas, Pinhos... eu sei lá! um nuncaacabar de ascendências ilustres a que as pessoas de idade se referem comdevoção (...).Ora, como os Resendes, segundo autoridades na matéria, provêm de Egas Moniz,aio de Dom Afonso Henriques, que, pela sua numerosa prole, deixoudescendestes para repartir por todas as velhas casas do Norte, resolveu meupadrinho, Rev. Caetano de Pina Rezende Abreu Sá Freire, substituir oRezende pelo apelido mais pomposo do ascendente Egas Moniz»

Mas, é claro, a história nunca acaba onde pusémos o «último» ponto final.