quarta-feira, setembro 27, 2006

Egas Moniz e o judaísmo


Magen David


No recém fundado Estudos sobre a Leucotomia, Ricardo S. Reis dos Santos inseriu um post intitulado "Os problemas das fontes: jornais e revistas", de que reproduzo extractos:

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Na edição de Setembro de 2006, a revista MAGAZINE – Grande Informação publicou um artigo da autoria José Manuel Simões sobre os judeus. A páginas tantas, nomeadamente na página 39, é feita uma referência aos judeus portugueses. Entre o poeta Luis Vaz de Camões, a poetisa Emma Lazarus e o matemático Pedro Nunes, lá aparece o Prémio Nobel da Medicina Professor Egas Moniz. Sobre este escreve-se o seguinte:

«O conselheiro real Egas Moniz era um judeu safardita português, um seu descendente, o professor Egas Moniz, passados oitocentos anos, ganhou, em 1949, o primeiro Prémio Nobel da Medicina para Portugal por ter descoberto a lobectomia e a angiografia (...)»
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Sem prejuízo de um mais circunstanciado comentário, parece-nos que a hipótese de Egas Moniz descender do aio de D. Afonso Henriques, com o mesmo nome, é vaga, improvável, e mereceu ao próprio Moniz algumas notas de desafectação [ver, p.ex. aqui e aqui]
Egas Moniz referiu-se aos judeus, umas quantas vezes, em termos (pelo menos) pouco lisonjeiros. Sendo irrisório o grau de probabilidade de Moniz se ter convertido, resta-nos apreciar a diligência de José Manuel Simões à luz do que poderíamos chamar o engrandecimento de uma certa ideia de judaísmo através do reforço simbólico que representaria a “inclusão” histórica de alguém cuja reputação acentuaria as características positivas e heróicas do grupo de pertença (efectiva ou mitificada).

É uma perspectiva interessante.

terça-feira, setembro 26, 2006

Egas Moniz ganhou ... mais um Blog!



Blog a Blog.

Há a assinalar o surgimento de um novo blog dedicado ao mais controverso dos métodos criados pelo neurologista português Egas Moniz. O “Estudos sobre a Leucotomia” veio trazer o seu concurso a esta área de estudo e reflexão.
O novo blogger -- Ricardo S. Reis dos Santos -- ocupa-se principalmente da denúncia daquilo a que chama as “falácias” acerca do método leucotómico.

Bem vindo.
Vamos a isto!

segunda-feira, setembro 25, 2006

No cinquentenário da morte de Egas Moniz (5)


Aspecto da estátua ao Prof. Egas Moniz
(Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa)


O cinquentenário da morte de Egas Moniz foi palidamente assinalado num ou noutro momento do ano passado. Aqui fizemos referência -- [1], [2], [3], [4] e [5] -- a essa forma leve e vaga de falar de Moniz sem o “incómodo” de discutir "demasiado" acerca dele…

A Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa assinalou o evento já em 6 de Fevereiro deste ano.

A publicação das comunicações feitas na respectiva sessão comemorativa foram recentemente publicadas na Revista da Faculdade, nº 3, Maio-Junho [disponível aqui].

sábado, agosto 26, 2006

Representações de Egas Moniz (1)


Egas Moniz com açúcar.


Tudo começa, por vezes, à mesa de um café. A Andreia, (obrigado, Andreia!) depois de ter rasgado um canto do pacote de açúcar, fica a observá-lo. Traz uma notícia de há 57 anos, quando o Prémio Nobel da Medicina foi entregue a um português. Quem foi, afinal, este Egas Moniz?

quarta-feira, abril 19, 2006

O novo paradigma neuronal (1)



Santiago Ramón y Cajal



A influência da obra científica de Santiago Ramón y Cajal (1852-1934) irradiou-se seguindo uma lógica semelhante à que Egas Moniz (1874-1955) adoptou, cerca de 30 anos mais tarde, quando tratou de divulgar os primeiros resultados da Encefalografia Artérial (1926). Enquanto se conformou à circulação em língua autóctone e às instituições nacionais, manteve um alcance restrito; logo que conquistou a atenção dos cientistas e das instituições mais prestigiadas, internacionalizou-se rapidamente, suscitou polémicas apaixonadas e consolidou-se recompensando o seu autor com a quota parte de notoriedade indispensável para sinalizar a inovação que reivindicava.

Foi ao ligar-se com cientistas e sociedades científicas da Alemanha, França, Itália, Bélgica e Suécia, que Ramón y Cajal imprimiu o impulso decisivo à avaliação e validação das suas teses, rapidamente partilhadas, discutidas e confirmadas por comunidades científicas cujas ligações se iam tornando indiferentes às fronteiras nacionais, mas cujas concentrações de saber-poder configuravam, nos planos cultural e político, assimetrias homólogas às que se verificavam nos planos social e económico.

Comemoram-se, em 2006, 154 anos do nascimento de Santiago Ramón y Cajal, (em Petilla, Navarra) e um século do Prémio Nobel, que recebeu conjuntamente com o histologista italiano Camillo Colgi.

sábado, fevereiro 11, 2006

Egas Moniz e o Prémio Nobel (1)





A primeira nomeação de Egas Moniz para o Prémio Nobel da Medicina ou Fisiologia, data de 1928. Escassos meses após ter feito, no Hospital Necker, em Paris, uma demonstração do modus operandi da Encefalografia Arterial, o Comité Nobel recebia as cartas de nomeação, assinadas por Azevedo Neves e Bettencourt Raposo. Ambos se dirigiram ao Comité Nobel, escrevendo em francês.
Azevedo Neves utiliza a designação de «encéphalographie artérielle», enquanto Bettencourt Raposo se refere à descoberta da «radioartériographie cérébrale».

A avaliação da candidatura de Moniz foi feita por Hans Christian Jacobeaus.

Num relatório de pouco mais de uma página, Jacobeaus, após uma descrição sumária do método e de uma apreciação meteórica dos resultados obtidos, enfatiza os inconvenientes, e lavra o seu parecer (que pode ser lido aqui)