quarta-feira, dezembro 26, 2007

Outras Perspectivas (11)

No programa da SIC-Mulher, Serralves fora de horas (6ªs feiras), (21/12/2007) Nuno Monteiro Pereira, convidado (urologista e andrologista) "revela" que nas Faculdades de Medicina das Universidades Portuguesas não há ainda uma cadeira de sexologia.
Antes, Mariana Pinto da Costa, Coordenadora Nacional do Departamento de Saúde Reprodutiva e Sida da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM), declarara à LUSA, em Setembro passado, que «O sexo é um tema que não é muito falado no decorrer do curso de medicina».

Reparem: Egas Moniz fez publicar a 1ª edição de A Vida Sexual, (ver p. ex. aqui), no início do século XX. Se os cursos de medicina não acolheram, entretanto, a sexologia como área interdisciplinar necessária e pertinente, isso quer dizer que os processos destinados à preparação para os temas associados à sexualidade têm estado pouco mais que ... parados.

Se quiséssemos identificar os processos bloqueados no século XX, teríamos necessariamente de incluir este. Um século depois, estamos praticamente na mesma.

terça-feira, outubro 30, 2007

Empreendedorismo (1)


A par de muitas outras actividades, Egas Moniz participou em diversas iniciativas empresariais. Apesar de tal não ter sido destacado, nem pelo próprio, nem pelos autores das numerosas notas biográficas a seu respeito, Moniz ficou associado à fundação da Companhia de Seguros A Nacional (Porto, 1906), e à constituição da Sociedade de Produtos Lácteos, Lda. ( 1923).


"Em 1905, a Sociedade Henri Nestlé foi nomeada fornecedora da Casa Real Portuguesa de farinha láctea, leite condensado e chocolate. Até 1920, a indústria de lacticínios portuguesa limitava-se a um número escasso de fabricantes artesanais de manteiga que não respeitavam os mais elementares requisitos de higiene. A Sociedade de Produtos Lácteos (SPL), criada em 1923 por três figuras de primeiro plano, viria a constituir o embrião da Nestlé Portugal.

A fundação desta sociedade foi resultado de três aspirações que se completavam. Uma delas era a de um médico que, embora não fosse especialista em nutrição de crianças, recusava-se a baixar os braços perante os elevados índices de mortalidade infantil, resultantes em parte da inexistência de um alimento que substituísse eficazmente o leite materno. Esse médico era o professor Egas Moniz, cujas descobertas no campo da Neurologia lhe granjearam renome internacional e o Nobel da Medicina em 1949."(1)



(1)Isabel Oliveira, "80 anos de papas" na Única (Expresso) nº 1619 de 8/11/2003

segunda-feira, outubro 29, 2007

Outras Perspectivas (10)



Na página 11 do nº 419 da revista FOCUS (24 a 30/10/2007). Ponto forte: não deixar cair a memória do primeiro Nobel português; ponto fraco: o afunilamento da efeméride para o leucótomo e para a imprecisão da asserção "solucionando algumas psicoses".
A fotografia é do "jovem doutor". Em 1949, Moniz ia nos seus 75 anos...
Ao jornalismo de efemérides não poderá provavelmente fazer-se as mesmas exigências de rigor e profundidade que se fazem ao ofício dos historiadores. Ainda assim, aqui fica o comentário.

quarta-feira, outubro 10, 2007

Nobel da Medicina 2007

O Prémio Nobel da Medicina ou Fisiologia deste ano, foi dividido por Mario R. Capecchi (na foto), Sir Martin J. Evans e Oliver Smithies, pelos seus trabalhos de indução de alterações genéticas.
Mario Capecchi é de origem italiana e está actualmente no Howard Hughes Medical Institute (Universidade do Utah, EUA); Martin Evans é do Reino Unido (universidade de Cardiff); e Smithies nasceu no Reino Unido e é investigador da Universidade da Carolina do Norte, EUA.

Informação disponível no site da Fundação Nobel.

A propósito de Capcchi, o Le Monde publicou uma peça de síntese acerca da atribulada história de vida do nobelizado. Pode ser lida [aqui].

segunda-feira, outubro 08, 2007

Cilícios mentais... (1)

O Estado Novo; os movimentos políticos de oposição ao Estado Novo; os patriotas; os neurologistas; os psicanalistas e outros grupos, mais ou menos ancorados institucionalmente, reivindicaram e reivindicam, quase sempre a justo título, Egas Moniz como um dos seus. O seu sucesso e notoriedade contribuíram para o reforço dos seus prestígios, das suas identidades e das suas imagens públicas. Em boa parte, essa invocação de Moniz, fragmentada na pluralidade de aspectos de que cada grupo selecciona um para colocar em destaque (o político, o cientista, o médico, etc) produz um caleidoscópio de imagens, ilusoriamente separadas, aparentemente contraditórias, como se de diferentes entidades se tratasse.

Deveremos juntar a esses exemplos de reivindicação comunitária, o texto de um padre jesuíta, que descortinou na carreira bem sucedida de Moniz, a influência decisiva do modelo de educação dos colégios jesuítas.

Trata-se do Padre jesuíta Gomes de Azurara que escreveu, em 1951, na revista Brotéria [*], uma recensão do livro recém publicado, de Egas Moniz, "A Nossa Casa"[**].
Moniz recorda a sua passagem pelo colégio jesuíta de São Fiel, salientando aspectos favoráveis (o estímulo experimental na formação do espírito científico), não deixando de, em paralelo, apontar defeitos, designadamente em relação à distribuição dos tempos lectivos.

Onde Egas Moniz escreveu (pág. 254) "No colégio, ao lado da exagerada vida religiosa, que nos levava tempo e roubava actividade"[**], Gomes de Azurara introduz uma chamada para nota de rodapé (pág. 421): "Há evidente exagero nesta afirmação. Existem os regulamentos do colégio desse tempo. A distribuição das práticas religiosas mostra que elas eram o que sempre foram e são de uso, em colégios verdadeiramente católicos"[*].

Todavia, logo a seguir, aquiesce relativamente a um remoque da mesma natureza do anterior. Diz Egas Moniz no parágrafo seguinte: "O equilíbrio entre orações, exercícios físicos e estudo, merecia ser melhor estabelecido"[**]. Comentário de Gomes de Azurara: "É possível. A pedagogia moderna tem alargado horizontes, neste ponto, e os Jesuítas, nos seus sistemas, têm beneficiado com isso"[*].

Mais adiante, Azurara verbera Moniz relativamente a expressões como "cilícios mentais" impostos aos ordenados.

Mais concretamente, Moniz discorre sobre o que aquele seu mestre jesuíta poderia ter sido noutras circunstâncias:

"
Suponho que o Padre Santana veio a falecer tuberculoso. Era da Madeira. Apesar de jungido aos cilícios mentais que a Ordem lhe impunha, foi um dos grandes espíritos que conhecia na minha vida. Noutra ambiência e com outras directrizes, a trajectória da sua existência ficaria marcada em obra de vulto"[**]

Gomes de Azurara remata"Dentro destas reservas, folgamos com o registo de tão abonatório testemunho do primeiro prémio Nobel português à pedagogia dos seus mestres jesuítas." [*]

Era aqui que o Padre Jesuíta, de facto, queria chegar.



[*] Azurara, Gomes de., (1951),
“O primeiro Prémio Nobel português, aluno dos Jesuítas” in Brotéria, Vol. LII, Fasc. 4.

[**] Moniz, Egas., (1950), A Nossa Casa, Lisboa, Paulino Ferreira, Filhos Lda

domingo, setembro 30, 2007

Outras Perspectivas (9)

Postal evocativo de Egas Moniz com traje académico, selo comemorativo e carimbo do Hospital de Santa Maria. Múltiplas inscrições em busca de um efeito: manter activas as imagens.

No verso do postal: "António Caetano de Abreu Egas Moniz, político, diplomata,literato, crítico de arte e acima de tudo médico, professor e cientista, nasceu em Avanca em 1874 e faleceu em Lisboa em 1955. Foi-lhe atribuido em 1949 o Prémio Nobel de Medicina e Fisiologia"


Cortesia de Vieira Pinto, do seu arquivo de "Figuras Ilustres".




sábado, setembro 22, 2007

Outras Perspectivas (8)




"Tivemos, portanto, que esperar até ao ano de 2000 para ver a atribuição do prémio Nobel a um psiquiatra por uma investigação psiquiátrica, com a concessão ao catedrático da Universidade de Columbia, Eric R. Kandel, pelas suas descobertas na área da aprendizagem e da memória, em especial pela diferenciação dos mecanismos moleculares do armazenamento da memória a curto e a longo prazo. Este investigador, autor do livro imprescindível Principles of Neurosciences, iniciou o seu percurso clínico nos anos 60, ao entrar para a Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard com o objectivo definido de se dedicar à psicanálise, fascínio que termina por se esbater ao aperceber-se que, segundo explicou no discurso lido perante a Fundação Nobel, as limitações da psicanálise se prendiam com a forma como esta teoria tratava “o cérebro, o órgão que gera o comportamento”, que era abordado “como uma caixa preta”. Isto é, para Kandel, a psicanálise fez com a biologia do cérebro o que o comportamentalismo clássico tinha feito com a vida intrapsíquica: negou-a


Gramary, Adrian., (2007),“De Egas Moniz e da impossibilidade de mudar o passado” in Saúde Mental, Volume IX Nº2 Março/Abril 2007, pp. 53-57.


Versão do artigo, na íntegra, em PDF [AQUI]

quinta-feira, setembro 13, 2007

Outras Perspectivas (7)

Muito obrigado a Vieira Pinto pela foto da capa do livro de Egas Moniz “A Vida Sexual” e pela anotação que juntou à mensagem que me enviou:

Quando o que é (era) proibido passa (passou) por muitas mãos, fica neste estado. Bom sinal!

Há, na história da recepção deste livro, uma série de desafios à compreensão de como fomos encarando e pensando as problemáticas sexuais, desde finais do século XIX. Esta edição de 1904 separa ainda a 1ª parte - “Physiologia”, - em edição autónoma, da 2ª parte - “Patologia”, - que virão a ser reunidas num só volume a partir de 1913. Um verdadeiro best seller, para a época, polémica, desafiadora dos interditos puritanos e sexófobos, foi objecto de 19 edições até 1933. O regime fascista veio a condicionar a sua circulação, colocando obstáculos e filtros elitistas à sua leitura ou aquisição. Já aqui nos referimos, de passagem, a alguns desses aspectos. Ver, p.ex., [aqui] e também [aqui].


Suma Bibliográfica

«A Vida Sexual» (Fisiologia), 1ª edição, XXIV - 262 pp., Coimbra 1901, 2ª edição, XIX - 352 pp., Lisboa, 1906.

«A Vida Sexual» (Patologia), 1ª edição, XXIII - 324 pp., Coimbra 1901, 2ª edição, XXVII - 322 pp., Lisboa, 1906

«A Vida Sexual», (Fisiologia e Patologia), Junção dos dois volumes anteriores, consideravelmente alterados em alguns capitulos. 3ª edição, XIV - 544 pp., Lisboa, 1913; 4ª edição, XXIX - 574 pp., Lisboa, 1918; 5ª edição, XXVI - 578 pp., Lisboa, 1922; 6ª edição, XXXVI - 578 pp., Lisboa, 1923; 7ª edição, Lisboa, 1928; 8ª edição, Lisboa, 1930; 9ª edição, Lisboa, 1930; 10ª; 11ª; 12ª e 13ª edição, 598 pp., Lisboa 1931; 14ª; 15ª; 16ª e 17ª edição, Lisboa, 1932; 18º e 19º edição Lisboa, 1933.



sexta-feira, agosto 24, 2007

Outras Perspectivas (6)

Quando Moniz, em 1906, se torna accionista fundador da companhia de seguros A Nacional, já era neurologista, professor universitário, autor de, entre outros, dois opúsculos acerca de "A Vida Sexual", reunidos mais tarde num só volume, que se converteu num best-seller, tendo contribuído decisivamente para a sua aura de especialista em disfunções sexuais de recorte psiquiátrico. Dados à estampa, pouco após conclusão do manuscrito, em Coimbra, (1901), acabavam de ser republicados, em 2ª edição, agora em Lisboa.
O jovem médico, então com 32 anos, fizera publicar, igualmente nesse ano de 1906, o artigo «As doenças populares. O perigo alcoólico» no Boletim da Assistência Nacional aos Tuberculosos, [Ano I, 1906, Fasc. 2, p.29-32, Lisboa, 1906], revelando, à vez, as preocupações de carácter médico-social que então lhe pesavam, e o carácter maciço das morbilidades derivadas do consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
Moniz preocupa-se com os aspectos sociais e políticos da prestação de cuidados de saúde. Dedica alguma atenção às consequências do excessivo consumo de bebidas alcoólicas, mas, apesar da intenção manifesta, não tornará ao assunto.
A designação de “doenças populares” e a adopção de um ponto de vista moderado em face de algumas correntes radicais que advogavam, pura e simplesmente, a eliminação do consumo de bebidas alcoólicas, indicam, por um lado, a distância social a que as elites se colocavam dos “populares”, diferenciando os consumos de bebidas alcoólicas com base nos estilos de vida. O “perigo alcoólico” é mitigado relativamente a outros grupos sociais e claramente identificado para aqueles cujos comportamentos, estados de saúde e sequelas, constituíam, de facto, um “problema” de saúde pública. Moniz coteja o caso português com o francês, denunciando a tese segundo a qual, nos países de grande produção vinícola, o consumo de vinho não tendia a ser problemático. Aponta as disfunções e complicações associadas ao alcoolismo, não poupando o leitor a alguns pormenores mais severos e horrorosos, e assume a posição de conselheiro, moralizando o uso e chamando a atenção para as implicações comportamentais e o modo como afectam a qualidade de vida dos consumidores excessivos.

quinta-feira, agosto 23, 2007

Outras Perspectivas (5)









O 3º patamar é o do segredo
. Aí foram deixados, em silêncio, os capítulos da sua vida de que não se orgulhava particularmente; a memória de actos atrabiliários, excessivamente ditados pelas circunstâncias; ou, pura e simplesmente, os aspectos que não concorriam para acentuar os traços biográficos com que queria que a memória da sua figura fosse recordada na posteridade.
Homem empreendedor, com múltiplos interesses, hobbies, gostos, não foi certamente por considerar indigna a sua tripla condição de accionista fundador, médico-chefe do ramo Vida e, mais tarde, membro do conselho de administração da companhia de seguros A Nacional, que a omitiu dos seus escritos.
Ficou, assim, afastada ou esbatida esse conjunto de actividades que convoca activamente os saberes (técnicos e científicos) e poderes (políticos, financeiros, institucionais). Afastadas do registo autobiográfico, apesar do peso quotidiano dessas ocupações e da responsabilidade que implicavam. porque lhe pareceu que combinariam mal com a efígie do sábio, concentrado nos estudos e desprezando as contrapartidas materiais, com uma quota-parte de ascetismo.

É neste patamar que deixará, igualmente, quaisquer considerações sobre a sua pertença à Maçonaria, na qual fora iniciado, círculo ritual em que boa parte da elite republicana selava a entrega à luz espiritual do saber positivo, reforçando a dedicação à República pela via do templo que lhe subjaz.
Aqui ficaram também quaisquer evocações de duelos em que foi parte, testemunha, representante ou conselheiro, revivência senhorial e cavalheiresca que arrastou o arcaísmo do uso da violência em privado para acertos de honra e desagravos, entre nobres, iguais, que, ou se retratavam e apresentavam desculpas, ou faltavam ao encontro no campo da honra, outorgando, aos que compareciam, o direito de poderem envergonhá-los em público, confrontando-os com a sua cobardia.
Actividade exigente que implicava a escolha de testemunhas, emissários, tentativas de conciliação, findas as quais, se sem êxito, se seguia a escolha das armas, o lugar, e o desfecho ao "primeiro sangue" ou "até à morte".
A ética cavalheiresca impedia-o, porventura, de divulgar publicamente a sua presença actuante nos meios de práticas duelísticas, tal como o bom senso e eventualmente, algum arrependimento, o impediam de confirmar a sua pertença à maçonaria. Bem entendido. Por isso mesmo, pela ressonância dos aspectos identitários não assumidos, a sua relação com as memórias e as qualidades excluídas do figurino heróico que compôs, ganham, por contraste, toda a pertinência para nos ajudarem a compreender um homem, na sua época, enfeitando a sua coroa de louros com uma parte da sua vida enquanto omitia a outra. O homem é um só. A representação que dele próprio faz, divide-se.

quarta-feira, agosto 22, 2007

Outras Perspectivas (4)

O 2º patamar consubstancia-se na Casa Museu de Avanca, ultimamente sob a alçada municipal (Câmara Municipal de Estarreja) que a tomou da Fundação criada por desejo testamentado do próprio. A "Casa do Marinheiro", curiosamente correlacionada com o tema de Ex-Libris, onde habitou com a família, e que mandou reconstruir, mais tarde, fazendo dela o seu retiro íntimo, de fins-de-semana e férias, antes ou depois do período termal a que se submetia anualmente para minorar as sequelas da gota que o atormentava desde os 24 anos. Moniz quis que a Casa do Marinheiro, com os seus espaços ajardinados e floreiras, com as colecções de pintura e outros objectos de arte, fundo documental, mobiliário e adereços permanecessem, após o seu desaparecimento, evocando a sua figura e o seu exemplo, repetindo, aos visitantes vindouros, o que tinha feito, a glória de que se cobrira e continuaria assim a ressoar, em seu louvor, seculorum et seculorum.

domingo, agosto 12, 2007

Outras Perspectivas (3)

















Cinquenta anos após a atribuição do Prémio Nobel, Egas Moniz foi celebrado em emissão filatélica. Na imagem, a variante de 80$00 (oitenta escudos) ou 0,40 € (quarenta cêntimos de um euro). Sobre a direita, uma fotografia do homenageado, em traje académico; à esquerda, em fundo, a reprodução de uma angiografia. O valor icónico desta representação sublinha a sua actividade de médico, professor universitário e cientista, com um enfoque directo numa das suas mais importantes realizações -- a Angiografia Cerebral -- datada de 1927. É interessante reparar no modo como a representação foto-pictórica selecciona os aspectos postos em destaque.

Um agradecimento especial a Maria Machado pela oferta do valioso exemplar.


terça-feira, junho 19, 2007

Outras Perspectivas (2)

O 1º patamar é o dos trabalhos (auto)biográficos. Nele se sistematizam os numerosos escritos em que Egas Moniz se ocupava, ainda que de passagem, da sua pessoa, características, feitos, descobertas e emulações, destacando-se, nesse conjunto, 4 volumes de pendor exclusivamente autobiográfico, elaborados em diferentes fases da vida.

"Um ano de política" (1919), em que pretendeu sumariar o pico final e mais intenso da sua participação institucional na política activa; "A última lição" (1944) breve excurso da saga científica do próprio, a pretexto da cerimónia de jubilação, sublinhando a Angiografia Cerebral" (1927) e a "Leucotomia Pré-frontal" (1935), dedicando muito mais espaço à primeira do que à segunda (como António Fernando Cascais justamente assinalou), concluindo com um iniludível amargor, pois chegado ao final da carreira, não vira o reconhecimento que julgava merecido; "Confidências de um investigador científico"(1949), repositório (ou arquivo, como ele, porventura, aqui e acolá, entende) de múltiplas andanças e perseveranças, que culminam nas realizações de maior projecção internacional, descrevendo atribulações, incidentes, viagens e comunicações, suas e alheias, interligadas cronologicamente com uma assumida focagem autocongratulatória; "A nossa casa" (1950), que agrupa memórias de infância e de juventude, abarcando a família, amigos e próximos, com um apontamento esotérico no final.





segunda-feira, junho 18, 2007

Outras Perspectivas (1)

[Na imagem: Casa Museu Egas Moniz, Avanca, Estarreja]

Indo ao encontro de alguns temas que me têm sido propostos por leitores do blog, passo a afixar uma série de postes relacionados com aspectos menos conhecidos da vida e obras de Egas Moniz. Para lá da sua aura de cientista nobelizado, que sobressai das biografias mais ou menos sumárias que lhe têm sido dedicadas, da faceta política, que tem sido desvalorizada na sequência das suas próprias alusões redutoras, alinham-se as fileiras de duelista, mação, empresário, umas mais desconhecidas do que outras, mantendo, porém, o atributo comum de raramente ou nunca terem sido reveladas ou esclarecidas pelo próprio.

A par do silêncio a que Egas Moniz as votou, significativo de per si, essas dimensões da sua actividade, carreiam elementos relevantes para a reconstituição do contexto histórico, social e cultural, no qual o médico, professor universitário, investigador científico, ensaísta, político e empresário, fizeram, num só trajecto, o efeito que tratamos hoje na forma de representações, tensões entre perspectivas complementares, às vezes, porém, julgadas contraditórias, ou desprezadas, por alguns as considerarem irrelevantes para o culto biográfico que pretendem encorajar.
Em muitos casos, estamos perante uma composição inspirada no próprio Moniz que legou directivas mais ou menos precisas acerca do entendimento mais apropriado que deve vingar quanto à sua vida e à sua obra.

Esse conjunto de instruções desdobra-se por três patamares distintos a que correspondem três suportes também diferenciados.


terça-feira, maio 15, 2007

Egas Moniz na Ilustração Portuguesa

(clique sobre a imagem para aumentar)

Agradeço a gentileza do anónimo que me fez chegar o documento em epígrafe, noticiando a entrada de Egas Moniz para a Escola Médica de Lisboa. Trata-se da página 466 do nº 268 da Ilustração Portuguesa, vinda a público a 10 de Abril de 1911. Moniz substitui Miguel Bombarda 1851-1910), na regência da cadeira de doenças nervosas, deixada livre por morte deste, cerca de um ano antes. Miguel Bombarda era também um destacado líder republicano. Foi assassinado por um paciente dois dias antes da eclosão triunfante da revolução. Seguir-se-á a reforma profunda das Universidades Portuguesas.

terça-feira, março 13, 2007

“Egas Moniz e o Prémio Nobel” na Ordem dos Médicos

[Fac simile do convite]

A sessão de lançamento teve lugar na passada sexta-feira, 9 de Março, na sede da Ordem dos Médicos. Presentes cerca de três dezenas de participantes. Na mesa, além do autor, a Presidente da Delegação Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Dra. Isabel Caixeiro; o Director da Imprensa da Universidade de Coimbra, Doutor José de Faria Costa; e o Professor Alexandre Castro Caldas. Por cortesia deste último, aqui fica o texto da comunicação que proferiu na apresentação do livro “Egas Moniz e o Prémio Nobel”:

Ligam-me a Egas Moniz laços de natureza diversa. Egas Moniz cursou Medicina em Coimbra com o meu avô paterno, que nunca conheci, mas de quem herdei ícones reveladores da boa relação que havia entre condiscípulos. Por outro lado, Egas Moniz foi ainda contemporâneo, nesse período, do meu avô materno que estudou Direito em Coimbra e de quem tive testemunho directo da vida de estudante. Ressalta desses relatos a singularidade da pessoa que já nesse tempo era escolhido pela Academia para ser seu representante e porta voz. Ficaram gravados na memória do meu avô os discursos feitos com rara eloquência e elegância.”[texto na íntegra aqui]

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

"Os Grandes Portugueses" e a Ciência





Egas Moniz ficou em 23º lugar no concurso “Grandes Portugueses” da RTP1. À frente de Dom Diniz; atrás de Eça de Queiroz, convenhamos que foi bastante recordado, entre os primeiros 100 seleccionados.

Assinalado com tal destaque, num concurso deste tipo, o primeiro Nobel “português”, não sai propriamente mal tratado.

Tomando em consideração que os resultados englobam apenas mais 6 personalidades associadas à ciência, (médicos em maioria) -- Fernando Nobre, Presidente da AMI (25º lugar); Pedro Nunes, Matemático (32); Sousa Martins, Médico, (57); Sobrinho Simões, médico/investigador (77); Adelaide Cabete, médica (95); António Gentil Martins, médico, (97) -- disputando a memória de “todos os grandes portugueses de sempre", o leque seleccionado dá uma ideia sobre o que os portugueses que participaram no concurso sabem, retêm e celebram acerca da ciência e dos cientistas.

terça-feira, janeiro 09, 2007

Egas Moniz e o Prémio Nobel (1)



Acaba de saír, editado pela Impreensa da Universidade de Coimbra, "Egas Moniz e o Prémio Nobel, - enigmas, mistérios e segredos". Segue um extracto da sinopse:

"Este livro traz a público três contribuições principais, extraídas da investigação em curso: uma abordagem problematizadora das questões históricas e sociológicas envolvidas no processo que levou Egas Moniz a ser agraciado com o Nobel da Medicina ou Fisiologia, em 1949, (ex-aequo com o fisiólogo suíço Walter Rudolf Hess); uma cronologia das nomeações de Moniz para o Prémio, iniciada em 1928, logo após a apresentação e publicação dos resultados do que viria a ser a Angiografia Cerebral, e prosseguiu com as nomeações de 1933, 1937, 1944 e, com a nomeação coroada de sucesso, de 1949; e, ainda, um conjunto de documentos de inegável interesse, que são as avaliações dos méritos do candidato, elaboradas por membros destacados pelo Comité Nobel com vista à emissão de pareceres e recomendações finais. De acordo com o regulamento da Fundação, estes documentos são conservados com a classificação de “secretos” nos Arquivos Nobel, durante os 50 anos subsequentes à sua datação."

A tradução da documentação histórica é de Teresa Guerra, a quem agradeço, uma vez mais, a competência, a solidariedade e a simpatia.