terça-feira, junho 19, 2007

Outras Perspectivas (2)

O 1º patamar é o dos trabalhos (auto)biográficos. Nele se sistematizam os numerosos escritos em que Egas Moniz se ocupava, ainda que de passagem, da sua pessoa, características, feitos, descobertas e emulações, destacando-se, nesse conjunto, 4 volumes de pendor exclusivamente autobiográfico, elaborados em diferentes fases da vida.

"Um ano de política" (1919), em que pretendeu sumariar o pico final e mais intenso da sua participação institucional na política activa; "A última lição" (1944) breve excurso da saga científica do próprio, a pretexto da cerimónia de jubilação, sublinhando a Angiografia Cerebral" (1927) e a "Leucotomia Pré-frontal" (1935), dedicando muito mais espaço à primeira do que à segunda (como António Fernando Cascais justamente assinalou), concluindo com um iniludível amargor, pois chegado ao final da carreira, não vira o reconhecimento que julgava merecido; "Confidências de um investigador científico"(1949), repositório (ou arquivo, como ele, porventura, aqui e acolá, entende) de múltiplas andanças e perseveranças, que culminam nas realizações de maior projecção internacional, descrevendo atribulações, incidentes, viagens e comunicações, suas e alheias, interligadas cronologicamente com uma assumida focagem autocongratulatória; "A nossa casa" (1950), que agrupa memórias de infância e de juventude, abarcando a família, amigos e próximos, com um apontamento esotérico no final.





segunda-feira, junho 18, 2007

Outras Perspectivas (1)

[Na imagem: Casa Museu Egas Moniz, Avanca, Estarreja]

Indo ao encontro de alguns temas que me têm sido propostos por leitores do blog, passo a afixar uma série de postes relacionados com aspectos menos conhecidos da vida e obras de Egas Moniz. Para lá da sua aura de cientista nobelizado, que sobressai das biografias mais ou menos sumárias que lhe têm sido dedicadas, da faceta política, que tem sido desvalorizada na sequência das suas próprias alusões redutoras, alinham-se as fileiras de duelista, mação, empresário, umas mais desconhecidas do que outras, mantendo, porém, o atributo comum de raramente ou nunca terem sido reveladas ou esclarecidas pelo próprio.

A par do silêncio a que Egas Moniz as votou, significativo de per si, essas dimensões da sua actividade, carreiam elementos relevantes para a reconstituição do contexto histórico, social e cultural, no qual o médico, professor universitário, investigador científico, ensaísta, político e empresário, fizeram, num só trajecto, o efeito que tratamos hoje na forma de representações, tensões entre perspectivas complementares, às vezes, porém, julgadas contraditórias, ou desprezadas, por alguns as considerarem irrelevantes para o culto biográfico que pretendem encorajar.
Em muitos casos, estamos perante uma composição inspirada no próprio Moniz que legou directivas mais ou menos precisas acerca do entendimento mais apropriado que deve vingar quanto à sua vida e à sua obra.

Esse conjunto de instruções desdobra-se por três patamares distintos a que correspondem três suportes também diferenciados.