terça-feira, novembro 29, 2005

Egas Moniz não era pseudónimo (1)



Emissão de 14/12/1989, INCM, Nota de 10.000$00. Retrato de Egas Moniz sobre a direita

Provoca estranheza a muitos a coincidência do nome porque ficou conhecido o primeiro português a conseguir um prémio Nobel. Egas Moniz foi também o nome do célebre aio de Dom Afonso Henriques, que nós imaginamos sempre pessoa de bem, capaz de honrar a palavra dada até às últimas consequências. João Alves dos Santos, depois de avaliar os textos disponíveis neste blogue, escreveu-me

Viva.Vi o seu blog Egas Moniz. Parabens :)Não consigo encontrar informação que justifique o "porquê" de o Dr. Egas Moniz ter recorrido ao uso de um pseudónimo "Egas Moniz"Se conhece este motivo, agradeceria a sua explicação.Muito obrigado

João Alves dos Santos


Enviei-lhe de imediato um trecho da autoria do visado acerca dessa questão, enfatizando que

O próprio Egas Moniz, em livro de carácter autobiográfico intitulado «ANossa Casa» (pp. 15-16), explica:

«A família do lado de meu pai tinha prosápias de fidalguia pelos Resendes,Sás, Abreus, Freires, Valentes, Almeidas, Pinhos... eu sei lá! um nuncaacabar de ascendências ilustres a que as pessoas de idade se referem comdevoção (...).Ora, como os Resendes, segundo autoridades na matéria, provêm de Egas Moniz,aio de Dom Afonso Henriques, que, pela sua numerosa prole, deixoudescendestes para repartir por todas as velhas casas do Norte, resolveu meupadrinho, Rev. Caetano de Pina Rezende Abreu Sá Freire, substituir oRezende pelo apelido mais pomposo do ascendente Egas Moniz»

Mas, é claro, a história nunca acaba onde pusémos o «último» ponto final.

domingo, agosto 21, 2005

O Político na Sombra do Cientista (2)



O político na sombra do cientista (2)

Trata-se de um texto que dá continuidade a uma série de reflexões acerca de Egas Moniz (EM) através da exposição, discussão e integração de aspectos marcantes da sua actividade, designadamente das que recobrem as dimensões da política e da investigação científica. Tinha sustentado, em texto anterior, que EM se preocupou em menorizar a importância histórica da fase da sua vida dedicada à política activa, conseguindo, até certo ponto, condicionar a futura sistematização da sua biografia.

Sustento, desta vez, que o que Moniz evidenciou acerca da política, da cultura e da sociedade, oferece um plano mais vasto, rico e diversificado, muito para além da efígie do neurologista que sobressai do frizo dos nobelizados. São essas dimensões, eclipsadas pela gestão historiográfica da sua figura, que maior interesse revestem para a compreensão da densidade da sua acção e dos contextos em que se movimentou.

O texto, na íntegra, pode ser lido aqui.


sábado, abril 30, 2005

Bibliografia sobre Egas Moniz (5)


Retrato de Egas Moniz

Da autoria de Ana Leonor Pereira, João Rui Pita e Rosa Maria Rodrigues, com prefácio de João Lobo Antunes, é uma excelente fotobiografia, profusamente legendada e anotada. Foi editada em 1999 pelo Círculo de Leitores, com o patrocínio da Câmara Municipal de Estarreja.

Bibliografia sobre Egas Moniz (4)


Egas Moniz em Livre Exame

Volume organizado por Ana Leonor Pereira e João Rui Pita, ambos docentes na Universidade de Coimbra e investigadores do CEIS-20 (Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX), editado em Coimbra pela Minerva, no ano 2000. Uma obra de referência que acolhe diferentes visões e perspectivas sobre o significado e alcance do homem e da obra. De leitura indispensável para um confronto actualizado dos diferentes pontos de vista acerca do sábio de Avanca.

sexta-feira, abril 08, 2005

Bibliografia sobre Egas Moniz (3)





As duas passagens anteriores (Bibliografia sobre Egas Moniz 1 e 2) do artigo de Seabra Dinis, são particularmente significativas. Põem em realce três aspectos da vida e obra de Egas Moniz que hoje nos podem parecer evidentes mas que raramente foram assinalados na literatura coetânea. Primeiramente, a referência à propensão cultural e ideológica de Moniz para posições políticas de carácter conservador. Depois, a observação de que o homem de Avanca era «sintónico de carácter». Em terceiro lugar, a fixidez teórica do neurologista «resistindo a toda a orientação da psiquiatria dos últimos decénios».

A publicação deste artigo um ano depois de Egas Moniz ter sido agraciado com o prémio Nobel da Medicina ou Fisiologia, numa revista da especialidade, atesta que, a par do elogio do «sábio» de renome internacional - que J. Seabra Dinis também celebra no mesmo artigo - se desenhava uma abordagem crítica, não meramente seguidista e reverencial, que fornecia uma visão equilibrada e contrastada da vida e da obra do criador da Angiografia Cerebral.

Bibliografia sobre Egas Moniz (2)






«Os anos vão passando, o mundo social sofre sucessivas e cada vez mais violentas crises que obrigam o pensamento a um novo ajustar às realidades, e Egas Moniz continua no mesmo posto, como em velha fortaleza granítica, resistindo a toda a orientação da psiquiatria dos últimos decénios na esteira psicológica e sociológica, e que nos parece, para uma mais clara compreensibilidade, não poder deixar de ser estreitamente relacionada com a evolução geral das nossas sociedades.»

J. Seabra Dinis “Alguns aspectos da personalidade de Egas Moniz” in Anais Portugueses de Psiquiatria, Vol. II, nº 2, Agosto de 1950 (Edição do Hospital Júlio de Matos, Lisboa), p. 7.

quarta-feira, abril 06, 2005

Bibliografia sobre Egas Moniz (1)



Memorial

«De começo, [em Coimbra] resistiu Egas Moniz à pressão ambiental. Em tempos de estudante, chegou a chefiar um pequeno agrupamento político de oposição à avassaladora torrente que dominava a grande maioria da juventude da época. E um pouco mais tarde, já professor, mas ainda no curso da Monarquia, foi eleito deputado pelo Partido Progressista.

Pela posição política que tomara, a que a contextura ideológica iniciada na infância não poderia ser estranha, já em si se manifestava a força quase indómita da personalidade, procurando impor-se às circunstâncias, sem se deixar arrastar passivamente na levada. Mas esta era demasiado poderosa e Egas Moniz, sintónico de temperamento, tinha mergulhado bem dentro dela para poder escapar. Nos últimos anos da Monarquia abandonou o partido em que tinha enfileirado para acompanhar o movimento cisionista de Alpoím, que passou a formar então, escreve ele em “Um ano de política”, “ o grupo mais avançado da Monarquia, que, ao lado dos republicanos, muito concorreu para a transformação que veio a operar-se na política portuguesa”.

Algum tempo depois adere à República. O peso da formação ideológica inicial não pode, porém, ser alijado com a mesma facilidade da carga do vapor. Prendem-no fortes raízes, intrínsecas e extrínsecas, que não é muito fácil cortar.

E no interior de si próprio vão agora manifestar-se, mais poderosas, duas forças de certo modo contraditórias, a raiz progressiva e a conservativa, que ele procura conciliar, colocando-se, de modo irrealista, numa aresta intermédia, que se traduz, no ponto de vista político, pela criação, em 1917 do Partido Centrista que dirigiu.»

J. Seabra Dinis “Alguns aspectos da personalidade de Egas Moniz” in Anais Portugueses de Psiquiatria, Vol. II, nº 2, Agosto de 1950 (Edição do Hospital Júlio de Matos, Lisboa), p. 6.