terça-feira, setembro 26, 2006

Egas Moniz ganhou ... mais um Blog!



Blog a Blog.

Há a assinalar o surgimento de um novo blog dedicado ao mais controverso dos métodos criados pelo neurologista português Egas Moniz. O “Estudos sobre a Leucotomia” veio trazer o seu concurso a esta área de estudo e reflexão.
O novo blogger -- Ricardo S. Reis dos Santos -- ocupa-se principalmente da denúncia daquilo a que chama as “falácias” acerca do método leucotómico.

Bem vindo.
Vamos a isto!

segunda-feira, setembro 25, 2006

No cinquentenário da morte de Egas Moniz (5)


Aspecto da estátua ao Prof. Egas Moniz
(Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa)


O cinquentenário da morte de Egas Moniz foi palidamente assinalado num ou noutro momento do ano passado. Aqui fizemos referência -- [1], [2], [3], [4] e [5] -- a essa forma leve e vaga de falar de Moniz sem o “incómodo” de discutir "demasiado" acerca dele…

A Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa assinalou o evento já em 6 de Fevereiro deste ano.

A publicação das comunicações feitas na respectiva sessão comemorativa foram recentemente publicadas na Revista da Faculdade, nº 3, Maio-Junho [disponível aqui].

sábado, agosto 26, 2006

Representações de Egas Moniz (1)


Egas Moniz com açúcar.


Tudo começa, por vezes, à mesa de um café. A Andreia, (obrigado, Andreia!) depois de ter rasgado um canto do pacote de açúcar, fica a observá-lo. Traz uma notícia de há 57 anos, quando o Prémio Nobel da Medicina foi entregue a um português. Quem foi, afinal, este Egas Moniz?

quarta-feira, abril 19, 2006

O novo paradigma neuronal (1)



Santiago Ramón y Cajal



A influência da obra científica de Santiago Ramón y Cajal (1852-1934) irradiou-se seguindo uma lógica semelhante à que Egas Moniz (1874-1955) adoptou, cerca de 30 anos mais tarde, quando tratou de divulgar os primeiros resultados da Encefalografia Artérial (1926). Enquanto se conformou à circulação em língua autóctone e às instituições nacionais, manteve um alcance restrito; logo que conquistou a atenção dos cientistas e das instituições mais prestigiadas, internacionalizou-se rapidamente, suscitou polémicas apaixonadas e consolidou-se recompensando o seu autor com a quota parte de notoriedade indispensável para sinalizar a inovação que reivindicava.

Foi ao ligar-se com cientistas e sociedades científicas da Alemanha, França, Itália, Bélgica e Suécia, que Ramón y Cajal imprimiu o impulso decisivo à avaliação e validação das suas teses, rapidamente partilhadas, discutidas e confirmadas por comunidades científicas cujas ligações se iam tornando indiferentes às fronteiras nacionais, mas cujas concentrações de saber-poder configuravam, nos planos cultural e político, assimetrias homólogas às que se verificavam nos planos social e económico.

Comemoram-se, em 2006, 154 anos do nascimento de Santiago Ramón y Cajal, (em Petilla, Navarra) e um século do Prémio Nobel, que recebeu conjuntamente com o histologista italiano Camillo Colgi.

sábado, fevereiro 11, 2006

Egas Moniz e o Prémio Nobel (1)





A primeira nomeação de Egas Moniz para o Prémio Nobel da Medicina ou Fisiologia, data de 1928. Escassos meses após ter feito, no Hospital Necker, em Paris, uma demonstração do modus operandi da Encefalografia Arterial, o Comité Nobel recebia as cartas de nomeação, assinadas por Azevedo Neves e Bettencourt Raposo. Ambos se dirigiram ao Comité Nobel, escrevendo em francês.
Azevedo Neves utiliza a designação de «encéphalographie artérielle», enquanto Bettencourt Raposo se refere à descoberta da «radioartériographie cérébrale».

A avaliação da candidatura de Moniz foi feita por Hans Christian Jacobeaus.

Num relatório de pouco mais de uma página, Jacobeaus, após uma descrição sumária do método e de uma apreciação meteórica dos resultados obtidos, enfatiza os inconvenientes, e lavra o seu parecer (que pode ser lido aqui)

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Álvaro Cunhal e Egas Moniz (1)



Referências a Egas Moniz na obra de José Pacheco Pereira

Cruzamento de referências na Biografia de Álvaro Cunhal que José Pacheco Pereira (blogue sobre a Biografia, aqui, e Abrupto, ali) tem vindo a publicar, tendo dado à estampa, recentemente, o 3º volume «Álvaro Cunhal. Uma biografia política – O prisioneiro (1949-1960)», Vol. III, Lisboa, Temas e Debates, 2005.

Por volta dos anos vinte do século passado, Egas Moniz deixa a política activa. Tendo em conta o modo como se passa a referir a esse período que foi de 1901 até cerca de 1920, poder-se-ia dizer que «abandonou» a política activa, desapontado com o desfecho do ciclo sidonista e a impossibilidade do reagrupamento de dissidentes evolucionistas, unionistas e ex-sidonistas, num novo partido orientado contra os excessos jacobinistas da «República Velha».

O 28 de Maio de 1926 encontra-o a trabalhar activamente, na Universidade e no laboratório, preparando, em segredo, a invenção da Angiografia Cerebral. Seguir-se-lhe-á, em 1935 a descoberta da leucotomia pré-frontal e a elevação da sua notoriedade internacional que culminará, em 1949, com a atribuição do Prémio Nobel da Medicina ou Fisiologia.

Durante esse período, Moniz está, quase por completo, dedicado ao ensino e à investigação científica.

Porém, a partir da sua jubilação e, mais acentuadamente, após ter recebido o Prémio Nobel, Egas Moniz adoptará uma militância de carácter cívico, em prol da causa da Paz e da Liberdade, demarcando-se sempre das correntes que considerava radicais.

A primeira entrada de Egas Moniz no território biográfico que Pacheco Pereira delimitou, encontra-se no 2º volume da biografia: JPP, (2001), Álvaro Cunhal. Uma biografia política - «Duarte», o dirigente clandestino (1941-1949), Vol. II, Lisboa, Temas e Debates.

Reza assim, a páginas 808:

Assim, em Março de 1947, a CC do MUDJ, numa circular confidencial, lançava uma campanha para recolha de 20.000 assinaturas destinadas a patrocinar uma homenagem a Norton. De forma críptica, dizia-se «tratar-se de uma iniciativa de maior alcance político, da qual podemos tirar várias conclusões, altamente agradáveis para nós» {nota 39: a comissão central do MUDJ, circular extraordinária às comissões (confidencial), 11 de Março de 1947.} no entanto, o nome do General não suscitou consenso desde o início e, na oposição não comunista, Sérgio, parte do PRP e Cunha Leal opuseram-se. As razões não eram coincidentes e espelhavam divergências que já vinham de trás, mas somente Cunha Leal se manteve tenaz na sua atitude de recusa.

António Sérgio pretendia a candidatura de um militar moderado no activo, ligado ao regime, Costa Ferreira, ou o Prémio Nobel da Medicina Egas Moniz, considerando as mais abrangentes e mais capazes de mobilizarem áreas fora da tradicional oposição {nota 40: Secretariado do PCP, Alguns aspectos da actividade do sr. A. S. Contrárias à Organização do Conselho Nacional, Agosto, 1948}.

Esta passagem é interessante a vários títulos. Salienta as clivagens existentes nas oposições ao regime fascista, mostrando quão complicadas já eram, por esses tempos, as coisas nestas paragens; chama a atenção para a demarcação comunistas/não comunistas; e comete um pequeno deslize de carácter anacrónico: trata Egas Moniz como Prémio Nobel, coisa que só virá a verificar-se mais tarde, em 1949. É inteiramente compreensível o deslize. Poder-se-ia até, se necessário, em favor de Pacheco Pereira, sustentar que, escrevendo nós sempre no presente, não é de espantar que colemos aos actores históricos as qualidades que já sabemos que eles virão a adquirir num futuro não muito longínquo. É claro. No entanto, aqui fica a reflexão.


quinta-feira, dezembro 15, 2005

No cinquentenário da morte de Egas Moniz (4)



PÚBLICO de hoje (2005-12-15, pág.5)

O PÚBLICO de hoje inseriu na rubrica «Cartas ao Director» um texto assinado por Luis Coelho, de Lisboa, em que o signatário expressa surpresa pelo facto de o Cinquentenário da Morte de Egas Moniz não estar a merecer o destaque que seria adequado ao primeiro Nobel português. Diz ele que

«É no mínimo de espantar que, àparte algumas notícias em jornais de qualidade inequívoca, os 50 anos da morte de Egas Moniz não tenham suscitado um tratamento mais acalorado por parte dos órgãos de comunicação social. Esperaríamos, pelo menos, uma pequena exposição ou ensaio biográfico. Mas pouco ou nada se fez! Não entendo a razão de tamanha escassez de orgulho num homem que revolucionou o mundo das neurociências. Não consigo perceber o porquê de tal acontecimento.»

A perplexidade de Luis Coelho é compreensível. Numa época em que a ciência se constituiu como o mais aperfeiçoado patamar da nossa racionalidade, impondo-se como perspectiva doutrinária e critério dominante do acerto das políticas públicas, a «escassez de orgulho» num cientista português agraciado, em 1949, com o maior galardão da «Medicina ou Fisiologia» é estranha.


Por estar de acordo com o autor da carta, e independentemente de o seguir em todas as afirmações parcelares que nela faz, adiantarei, proximamente, uma série de reflexões acerca do relativo blackout que tem vitimado a memória de Egas Moniz.