quarta-feira, agosto 11, 2010

Mataram o Sidónio (4)

João Alberto Pereira de Azevedo NevesAntónio Caetano de Abreu Freire Egaz Moniz
Azevedo Neves e Egas Moniz


A proximidade e cumplicidade de Azevedo Neves e de Moreira Júnior com Egas Moniz, tal  como aflorei no anterior poste, vinham muito de trás. Da Câmara dos Deputados da Monarquia Constitucional, em que conviveram; do Partido Progressista, de que eram membros (Moniz viria a afastar-se apenas em 1905, acompanhando a chamada Dissidência Progressista liderada por José Maria d’Alpoim). Cruzaram-se, pois, na vida política, tanto quanto na vida Universitária, Médica, Associativa e Hospitalar, em vários momentos e fases.

Quando, em 1928, Egas Moniz é nomeado, pela 1ª vez, para o Prémio Nobel da Medicina ou Fisiologia(*), Azevedo Neves encontra-se entre os nomeadores, enaltecendo a importância médico-científica da sua Encefalografia Arterial; e em 1937, por altura da 3ª nomeação de Egas Moniz para o mesmo prémio, as duas cartas que dão entrada no Instituto Karolinska, vão assinadas, respectivamente, por Azevedo Neves (de novo) e por Moreira Júnior, destacando, desta vez, quer a já  mencionada Encefalografia Arterial, quer a Leucotomia pré-frontal que tanta controvérsia viria a levantar.

Se confrontarmos a reacção de Egas Moniz, ficcionado por Moita Flores, ao excurso metafísico de Azevedo Neves acerca dos limites do “bisturi”, não podemos deixar de sorrir e lembrar que, se assim pensasse, Azevedo Neves não nomearia, em coerência, Egas Moniz para o Prémio Nobel de 1937.

Diz Azevedo Neves (ficcionado):

Considero que a nossa dimensão ontológica escapa ao bisturi do cirurgião e não é perceptível na bancada de autópsias. Abrimos cadáveres, jamais dissecaremos um espírito. A razão já não habita o corpo morto. Dissolve-se na morte? Emigra para o mundo dos espíritos? Encontra-se com os anjos que ladeiam São Pedro? Confesso que não sei.”(**)

Quais teriam sido, anos mais tarde, as reflexões de Azevedo Neves e de Moreira Júnior para apoiarem a Psicocirurgia?

Mistério.


(**) FLORES, Francisco Moita, Mataram o Sidónio!, Alfragide, Casa das Letras, 2010, p. 118.

1 comentário:

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