quarta-feira, junho 15, 2022

Biografia de Egas Moniz da autoria de Victor Oliveira (2)

 









A publicação de “Egas Moniz - legados da sua vida e obra”, de Victor Oliveira, inscreve-se na fileira celebrativa de uma extensa bibliografia acerca do controverso político e neurologista cuja competência comunicacional foi de molde a conseguir que, ainda hoje, pela pena de alguns dos seus biógrafos, a descrição do seu trajeto continue a sintonizar-se pelo diapasão que fabricou. Como dizia no início deste ano um dos frequentadores deste blogue, raramente se destaca o facto de Egas Moniz ter sido médico da CP, porque tal condição o colocaria demasiado perto dos ferroviários e dificultaria mais a mitificação?

O tom geral é dado no prefácio à obra, assinado pelo diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Fausto J. Pinto, em cuja opinião, o biografado “conseguiu ser tudo aquilo que muitos buscam, mas poucos conseguem” (p. 9).

A sua carreira política será, mais uma vez despojada da vivacidade táctica que o fez aliar-se aos Republicanos ainda no tempo da “dissidência progressista”, a aceitar a liderança de Miguel Bombarda, a voltar a conjurar com os Monárquicos, a ser cofundador do Partido Evolucionista (com António José de Almeida) e a permanecer no Governo de José Relvas, e a perceber finalmente, que a onda sidonista tinha passado. Egas Moniz, retira-se da política menos por quaisquer ressentimentos, mas, sobretudo, porque o seu espaço de manobra se reduzira drasticamente. E, sagaz como era, ao concluir que tinha perdido influência, soube virar de página.

É verdade que estas considerações são de pouco interesse perante uma obra bem planeada e estruturada, com uma excelência gráfica notável, fazendo juz ao propósito enunciado pelo autor: fazer dela uma "memorabilia  de uma vida marcante” (p. 14).

O sistema presidencialista do Sidónio Pais, à imagem do Governo Federal dos Estados Unidos da América, não tinha a figura do “ministro”, tinha, sim, “Secretários de Estado”. O autor referirá sempre Moniz como “Ministro dos Negócios Estrangeiros”. Dir-se-ia que uma nota de rodapé resolveria a questão, evitando que um pouco de história e cultura política da época se escoassem pelo ralo da simplificação.


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