sábado, abril 30, 2011
Egas Moniz. Uma biografia.
terça-feira, abril 12, 2011
terça-feira, março 22, 2011
Mais um artigo acerca da lobotomia, na PsichCentral
domingo, março 13, 2011
Produção Bibliográfica acerca de Egas Moniz (1)
segunda-feira, janeiro 10, 2011
Quando as fontes mentem (3)
quarta-feira, janeiro 05, 2011
Quando as fontes mentem (2)
Egas Moniz, por Miguel*
sexta-feira, novembro 19, 2010
Quando as fontes mentem (1)
terça-feira, novembro 16, 2010
Como ganhar um Prémio Nobel: algumas sugestões
terça-feira, novembro 02, 2010
A 1ª República, os médicos, a saúde e o corpo
terça-feira, outubro 12, 2010
Prémio Nobel da Medicina ou Fisiologia de 2010
Robert G. Edwards |
segunda-feira, outubro 11, 2010
A Medicina na Azulejaria (*)
quarta-feira, agosto 11, 2010
Mataram o Sidónio (4)
Azevedo Neves e Egas Moniz
terça-feira, agosto 10, 2010
Mataram o Sidónio (3)
O diálogo Azevedo Neves – Egas Moniz estabelece-se à saída do cemitério do Alto de S. João, após o funeral da mulher de Asdrúbal d’Aguiar, vítima da pneumónica. Asdrúbal ocupava então o cargo de Director interino do Instituto de Medicina Legal, na ausência de Azevedo Neves. Tinha sido, também, discípulo de Egas Moniz. À mesma hora, realizavam-se, a caminho do Panteão Nacional, as cerimónias fúnebres de Sidónio Pais. Egas Moniz estranha que Azevedo Neves, membro do Governo de Sidónio, não esteja lá a prestar-lhe as suas últimas homenagens.
A conversa afigura-se interessante e profunda, em redor dos limites do conhecimento científico, do espiritismo e da metafísica, mas há três aspectos que poderiam equivocar o leitor historicamente incauto.
1º) Egas Moniz era, tal como Azevedo Neves (a quem parece admoestar pela ausência das exéquias fúnebres de Sidónio), membro do mesmo Governo, sobraçando a Secretaria dos Negócios Estrangeiros. Era, portanto, no Governo de Sidónio, colega de Azevedo Neves. Qual o sentido da chamada de atenção de Egas Moniz a Azevedo Neves? Estaria Moniz a ser irónico? Aperceber-se-ia que ao contar ali dois membros do Governo de Sidónio, estava também a assinalar a solidão política a que votavam o antigo chefe? De qualquer modo este aparecimento de Egas Moniz desligado da política, mesmo na hipótese de um registo irónico, é inconsistente. Porquê?
2º) Porque a afinidade política de Egas Moniz com Azevedo Neves vinha muito de trás. Ambos tinham militado nas fileiras do Partido Progressista, - monárquicos, pois; ambos tinham sido iniciados na Maçonaria - maçons, pois; ambos tinham aderido ao Partido Nacional Republicano (vulgo: Partido Sidonista) – correligionários, pois. O aparente distanciamento de Egas Moniz das coisas da res publica é habitual no registo biográfico que o próprio Egas Moniz se esforçou por impôr, mas não corresponde à verdade dos factos, pelo menos até à queda do Governo de José Relvas, em que Azevedo Neves já não entrou, mas no qual Egas Moniz ainda continuou na qualidade de Ministro dos Negócios Estrangeiros.
3º) O narrador, a dado passo, tentando evitar a monótona repetição dos nomes dos personagens, trata Egas Moniz por “cirurgião”. O deslize não tem gravidade e explica-se provavelmente pela ideia difusa no silogismo comum: se Egas Moniz ganhou o prémio Nobel graças à leucotomia pré-frontal, que consistia numa neurocirurgia, logo Egas Moniz era cirurgião. Na verdade, Egas Moniz era neurologista (talvez até neuropsiquiatra) mas não era cirurgião.
Estas anotações não deslustram em nada a interessantíssima narrativa de Moita Flores. São apenas uma manifestação de desconforto de um leitor ex fabula.
Egas Moniz, Azevedo Neves e Moreira Júnior terão ainda alguns lances comuns nos anos seguintes. A eles voltaremos mais tarde.
Mataram o Sidónio (2)
No seu afã literário de dramatizar gentes e acontecimentos, Moita Flores inventa e recria diálogos, uns mais verosímeis do que outros, mas quase sempre dentro dos limites da razoabilidade histórica.
Asdrúbal d’Aguiar, que é o herói da novela, fala com praticamente todas as entidades ao alcance do acontecimento, incluindo uma sugestiva e fortuita troca de propósitos com Fernando Pessoa no Martinho da Arcada; Manuel Moreira Júnior desafia provocatoriamente magistrados, catedráticos e governadores civis, com um ostensivo e pesado sentido de humor; e Azevedo Neves, então Secretário de Estado do Comércio no Governo de Sidónio, fala com quase todos eles, justificando as suas escolhas políticas (continua monárquico, mas com uma dívida de gratidão a Sidónio), a sua estratégia institucional e os seus pensamentos mais profundos sobre a vida e a morte, a ciência e o direito, a religião e o Estado.
Um desses diálogos ocorre no capítulo “O funeral da Morte” (pp. 116-121, da 1ª edição *), e tem Egas Moniz por interlocutor
* FLORES, Francisco Moita, Mataram o Sidónio, Casa das Letras, Alfragide, 2010.
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Mataram o Sidónio (1)
segunda-feira, fevereiro 15, 2010
O "Poder Biográfico" (1)
terça-feira, outubro 27, 2009
60 Anos do Prémio Nobel da Medicina (2)
domingo, outubro 25, 2009
60 Anos do Prémio Nobel da Medicina (1)
sexta-feira, julho 31, 2009
Défices e alheamentos (2)
A tese que sustenta uma causalidade linear entre a apresentação das chimpanzés de Fulton no Congresso de Londres, em 1935, e o arranque, em Lisboa, das primeiras leucotomias, é demasiado simplista. Não é pelo facto de se ter instalado nas histórias acerca da psicocirurgia que se torna mais consistente. É altamente improvável que um qualquer neurologista [1] que não tivesse reflectido longamente sobre o papel dos lobos frontais, se dispusesse, de um momento para o outro, a enveredar, sem mais, pela psicocirurgia. Há uma série de indícios que levam a atribuir à experiência de Fulton, quanto muito, uma oportunidade de confirmação.
Todavia, o próprio Fulton, depois de ter achado má ideia “saltar” dos macacos para os humanos, alimentou, também, a versão de que os seus trabalhos e os do seu colega Carlyle Jacobsen, tinham estado na génese da leucotomia de Moniz. Para reforçar essa história de que Moniz soltara o seu eureka em Londres, diante das chimpanzés, Olivercrona, no discurso oficial de apresentação dos vencedores do prémio Nobel 1949 [2], destacou os trabalhos anteriores de Fulton, reforçando a tese de que o encontro de Moniz com Fulton, em 1935, fora decisivo.
De qualquer modo, o estranho é que, havendo dois cientistas norte americanos a fazer investigação sobre as funções dos lobos frontais em grandes símios, Moniz, após tomar conhecimento da fase de pesquisa em que se encontravam, tenha decidido dar o “salto” para os humanos, sem assegurar a confirmação experimental, ainda nos símios, antes de efectuar a translação. O pouco que se conhecia e se tinha publicado à época, aconselharia a continuar, ainda, com as experiências em chimpanzés até serem adquiridos conhecimentos mais sólidos na matéria. A experimentação em humanos, apesar de usada e abusada na “era dos extremos” [3], tinha merecido a Moniz, na preparação da Encefalografia Arterial, uma translação mais faseada e cautelosa.
[1] Entre outros, Walter Freeman, participante no mesmo Congresso, e mais tarde um dos maiores entusiastas da psicocirurgia, poderia, igualmente, ter sido sensibilizado pela experiência das chimpanzés e tido também o seu “eureka”...
[2] Olivercrona, Herbert., (2006), "Avaliação da Candidatura de Egas Moniz em 1949" in Correia, Manuel., Egas Moniz e o Prémio Nobel, Coimbra, Imprensa da Universidade.
[3] Ver, entre outro o livro de Pappworth, (1967), Human Guinea Pigs, London, Penguin.
segunda-feira, julho 27, 2009
Défices e alheamentos (1)
Em praticamente toda a literatura que faz a avaliação da psicocirurgia surgem críticas às insuficiências teóricas da exposição conceptual de Egas Moniz. As ideias que expôs acerca do funcionamento do cérebro, do papel dos lobos frontais e dos “centros ovais” dos lobos pré-frontais, não explicitavam, de acordo com os resultados obtidos, o carácter dos fenómenos que a lesão induzida repercutia na dinâmica psíquica.
Cerca de um ano após as primeiras leucotomias, Egas Moniz e Diogo Furtado expunham a fragilidade teórica da empresa:
(...) nous voulons signaler que la doctrine de la fixation fonctionnelle de certains groupements cellulo-connectifs, exposée dans ce livre [Tentatives opératoires], n'est pas plus qu'une hypothèse de travail, et n'a aucune prétention de jouer le rôle de théorie pathogénique des psychoses dite fonctionnelles.
Le mécanisme par lequel l'intervention destructive de susbtance blanche des lobes préfrontaux agit favorablement sur certains tableaux psychopathologiques nous est - il faut l'avouer - tout à fait inconnu.[1]
Neste artigo, além de admitirem desconhecer o "mecanismo" que explica as melhoras de uma parte dos doentes, fazem várias observações cuja consistência permanecerá em trabalhos futuros.
C'est dans les psychoses, dont le symptôme dominant est l'angoisse, que la méthode s'est montrée le plus efficace: on a rapporté plusieurs cas de mélancolie anxieuse, dont l'évolution jusque là chronique et irrémissible a été arrêtée et le malade guéri par l'intervention.[2]
e outras que não virão a ser confirmadas
(...) la destruction considérable que nous provoquons dans le centre oval des lobes
Nos anos seguintes, mercê do efeito Mateus [4] e de alguns traços dominantes da cultura científica dos médicos, a Leucotomia Pré-frontal e neurocirurgias derivadas, foram replicadas um pouco por todo o lado. Quando, em 1948, o 1º Congresso Internacional de Psicocirurgia teve lugar em Lisboa, os adeptos da psicocirurgia, mais ou menos entusiastas, conheciam já, bastante bem, os riscos, os efeitos secundários (as tais alterações da personalidade...) e, de um modo geral, sustentavam que a prática da leucotomia deveria tender para intervenção de último recurso.
Na sua Última Lição [5], em 1944, Moniz reconhece algumas fragilidades teóricas no edifício conceptual da Leucotomia Préfrontal.
Se me sobrar vida e disposição, ocupar-me-ei ainda com desenvolvimento do aspecto teórico da questão, pois se a operação foi acolhida, por muitos, com interesse, as suas bases não mereceram, entre os próprios psiquiatras organicistas, unanimidade de vistas. (...) A realidade dos resultados obtidos sobreleva contudo as divergências no campo das hipóteses iniciais.[6]
Incomodava-o, sobretudo, que os neurologistas que partilhavam com ele uma concepção organicista, pusessem reservas às suas explicações e indicações. O facto de se disponibilizar para desenvolver a explanação teórica da leucotomia, atesta, pelo menos em certa medida, sensibilidade e consideração por algumas das críticas que lhe foram endereçadas.
Hessen-Möller, comentando a nomeação para o Nobel em 1944, refere-se também a este aspecto.
(...) as reflexões teóricas que levaram Moniz ao seu método parecem tão vagas, e o material do próprio Moniz por causa do acompanhamento curto e relativamente superficial a seguir às intervenções cirúrgicas não chega para convencer.[7]
Finalmente, em 1955, na conferência proferida acerca dos ataques à leucotomia - A Leucotomia está em Causa [8] - Moniz desvaloriza as reservas que lhe são colocadas no plano teórico, designadamente as sublinhadas pela lei da União Soviética que passou a interditar a prática da leucotomia. Neste último caso, a interpelação teórica teve origem no Conselho Superior de Saúde da URSS que
(...) examinou a questão da leucotomia pré-frontal como método terapêutico e reconheceu que esta operação não tinha bases teóricas; a aplicação da leucotomia pré-frontal contradiz todos os princípios fundamentais da doutrina de Pavlov[9]
Visando, antes de tudo, a questão teórica, Moniz acrescenta
Se isso significa dizer que as não aceitam [as bases teóricas da leucotomia] , está bem; mas os resultados é que valem e são reconhecidos pela grande maioria dos neuro-psiquiatras ocidentais e americanos.
(...) os influxos que atravessam o cérebro podem seguir diferentes caminhos para alcançar o mesmo fim.[10]
Por fim, sintetiza a procedência de duas séries de provas:
Dum lado, as que a defendem [a leucotomia] no campo médico, filosófico e teológico; do outro as que a condenam por motivos mais teóricos do que práticos, indo até à sua proibição num grande país oriental.[11]
Face às dificuldades que lhe foram surgindo na descrição de um modelo dinâmico que explicasse a relação entre as alterações produzidas no córtex e os resultados quer favoráveis, quer desfavoráveis, às suas teses, Moniz admitiu, antes de receber o prémio Nobel, que se impunha desenvolver os aspectos teóricos da leucotomia. Depois de 1950, tendeu a desvalorizar as fragilidades teóricas que tinha constatado antes, argumentando com a força da evidência dos resultados.
Moniz remetia-se assim a uma postura empiricista, como se fosse possível, na divulgação dos resultados da investigação científica, dispensar a teoria para interpretar os resultados, compreender os processos e prosseguir a investigação.
[1] Moniz, Egas e Furtado, Diogo., (1937), “Essais de traitement de la schizophrénie par la leucotomie préfrontale” in Annales Médico-Psychologiques, Nº 2, Juillet, Paris, Masson et Cie Editeurs, p.1.
[2] Ibidem.
[3] Ibidem.
[4] Efeito que pretende explicar a ampliação do prestígio de quem já se posicionou na comunidade científica e a dificuldade em se fazer ouvir de quem ainda não o conseguiu. Merton, Robert K., (1973), The Sociology of Science. Theoretical and Empirical Investigations,
[5] Moniz, Egas., (1944), A última Lição, Lisboa, Portugália Editora.
[6] Idem, p.25.
[7] Hessen-Möller, (2006), "Parecer sobre a nomeação de Egas Moniz para o Prémio Nobel de 1944" in Correia, Manuel., Egas Moniz e o Prémio Nobel, Coimbra, Imprensa da Universidade, 131.
[8] Moniz, Egas., (1954), A leucotomia está em causa, Lisboa, Academia das Ciências de Lisboa.
[9] Ibidem, p. 48
[10] Ibidem, p. 49
[11] Ibidem, p. 51