terça-feira, dezembro 28, 2021

Contos da lobotomia

 


Do outro lado da glória científica da psicocirurgia está a tragédia das pessoas leucotomizadas, e lobotomizadas. São conhecidas muitas biografias e enaltecidas as “tentativas operatórias” de uns, mas o enquadramento histórico fica incompleto e desequilibrado sem indagar e revelar os resultados nas suas múltiplas dimensões.

Registar ou enaltecer os grandes empreendimentos deixando o holofote a iluminar os “grandes homens” e as “elites” foi uma constante do modo de fazer história que atravessou diferentes historiografias até aos dias de hoje. Fazer-lhes o contraponto, alargar o enfoque aos restantes atores históricos não é novidade. Apenas continua a ser raro.

Aqui no blogue do lado, Contos da Lobotomia, inaugura-se a publicação de algumas histórias que ajudam a completar as aventuras da psicocirurgia.

sábado, maio 22, 2021

1949 - Um Nobel complexo: Egas Moniz

 


Para quem tiver interesse, aqui está o link para um artigo de revisão sobre as biografias de Egas Moniz, publicado no último número da revista CEPIHS.

1949 – Um Nobel complexo: Egas Moniz

sábado, janeiro 02, 2021

 


Egas Moniz ao Panteão Nacional (8)





Eusébio da Silva Ferreira (1942-2014) foi o primeiro futebolista profissional a ascender ao Panteão Nacional. A rapidez com que o processo se verificou foi notável. Faleceu em 5 de janeiro de 2014. A 3 de julho do ano seguinte oficializava-se a trasladação do cemitério do Lumiar para o Panteão Nacional. A importância do futebol na política ficou assim confirmada. Neste mesmo blog fizemos-lhe uma referência na altura, chamando-lhe, com um toque de humor,  Eusébio - A última finta o que com certeza pecou por defeito. Porquê a última?

Em todos os casos anteriores o 1º Nobel português (e, a partir de 2010, também o 2º)  poderiam ali ter-se perfilado, já que reuniam todos os quesitos para lhe serem concedidas honras de Panteão. E todavia, não. Houve sempre outros valores, outras estratégias, outros dispositivos que operaram diligentemente para que o manto do esquecimento permanecesse sobre pessoas, grupos, entidades e acontecimentos, virando os holofotes da lembrança, da recordação, da comemoração e da homenagem noutras direções.

Não. Ainda não foi dessa vez que o 1º e o 2º portugueses nobelizados foram sequer aludidos.


 



Egas Moniz ao Panteão Nacional (7)








A Sophia de Mello Breyner Andresen (1819-2004), exemplo de uma conjugação pronunciada entre a criação literária e artística e o ativismo cívico e político, autora de obra apreciável, são concedidas honras de Panteão Nacional dez anos após a sua morte, e 7 anos depois de Aquilino. Em 2014, passa a ombrear com a elite dos heróis pátrios.

Do modo como as coisas se processaram nada faria os proponentes deterem-se e olhar para as figuras que ficaram para trás. Era o tempo de fazer justiça à poetisa incontornável; era o tempo dela. Não era, de todo, o tempo dele.

 


Egas Moniz ao Panteão Nacional (6)










Aquilino Ribeiro (1885-1963) ativista político, autor do Volfrâmio, Quando os lobos uivam, O Malhadinhas e muitíssimos mais, foi o senhor que se seguiu. Em 2007, cerca de 4 anos depois de Manuel de Arriaga, dá entrada no Panteão Nacional, entre aplausos e apupos, com manifestações de apoio e declarações de desagrado e oposição à concessão dessa honra.

Também neste caso, o 1º Nobel português poderia tê-lo acompanhado. Conheciam-se e liam-se mutuamente. Ofereceram um ao outro muitos dos livros que publicaram. Viveram a mesma época e enfrentaram problemas semelhantes.

A celeuma que rodeou a proposta de concessão de honras a Aquilino Ribeiro é particularmente interessante e põe a nu o caráter contraditório do julgamento das biografias e de outros elementos historiográficos, sempre em aberto.

De qualquer modo, não foi ainda desta vez que Egas Moniz foi proposto.

 


Egas Moniz ao Panteão Nacional (5)




Só em 2004, Manuel de Arriaga (1840-1917), primeiro Presidente da República Portuguesa, vai para o Panteão Nacional. Nestes debates sobre o Panteão é surpreendente que o primeiro Presidente da 1ª República, que criou e aderiu à conceptualização dos Panteões republicanos, tenha sido acolhido naquele espaço evocativo tão tarde. Esta demora ajuda a compreender o caráter casuístico, desgarrado e ziguezagueante dos critérios usados na concessão de honras...

Na altura não teria sido necessário escolher entre Manuel de Arriaga e Egas Moniz. Ambos poderiam ter subido de braço dado às esferas virtuais do Panteão.

Como se sabe, ainda não foi desta vez que Egas Moniz foi considerado. Afinal tratava-se apenas do primeiro prémio Nobel descerrado a um português...